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GENTE


"Gente me envolve me fascina, me entontece. Gentes por perto me libertam das minhas prisões.
Gosto desta mistura acetinada do toque das pessoas. Gosto das bagunças que as almas humanas fazem nas suas chegadas.
Gosto mais ainda quando elas permanecem dentro da gente.

Gosto demais de quem oferece oportunidades, dá o lugar, espera o tempo do outro.
Gosto de quem sabe a delicadeza de chegar e o tempo para partir, prometendo voltar,
quando necessário. Gente que sabe seus limites, não faz corpo mole para a vida.
De quem me possibilita aprender e sabe ensinar sem  prepotência.
Eu gosto de quem se revela, não se esconde, não se amedronta.

Gente que admite suas utopias, ri de si próprio, responsabiliza-se pelos seus erros, é gente que me encanta.
A verdade mesmo é que gosto de quem é incansável nas tentativas para acertar. De quem se perdoa, se liberta, se refaz, se resolve.

Gosto de quem não sabe tudo. De quem sabe ganhar, mas também perde com dignidade.
de quem curva a cabeça, quando necessário, fala olhando nos olhos e tocando nas mãos.
De quem adota a esperança e os sonhos como possibilidades. De quem sabe encantar, dizendo sim ou não.
De quem não precisa gritar para ser ouvido. Gosto mesmo de quem fala baixo, pausadamente e firme.
De quem não faz tempestades com os pequenos vendavais.
Gosto de quem sabe gostar bonito, sem frescuras, sem explicações, sem conceitos longos e causas infinitas.
Gosto de quem não precisa explicar seu jeito de ser. Gosto de quem aceita e perdoa os deslizes.
Gosto de gente que a gente pode tocar, falar, olhar, reclamar e amar. Gosto de gente que sabe ser gente e mais ainda, sabe o valor disso."
Ita Portugal
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Ainda não sabemos



O que a gente ainda não sabe
A gente dá as costas para a vida quando considera privilégio custear trocados em nome de uma solidariedade enrustida de interesses pessoais. Não sabemos sobre o outro e tampouco levamos em conta a contrapartida obrigatória e desinteressada que precisamos oferecer para sermos razoáveis. Limitados estamos de deixar o mundo mais bonito. Ninguém está interessado na beleza da janela do vizinho. O jardim mais florido precisa ser o nosso.
É preciso tomar dose forte de sanidade já que apenas café e poesia não vale. É equívoco pensar que somos servos da bondade, quando sequer ajeitamos as situações sem querer vantagens. A gente ainda não sabe nada sobre desapego. Somos servos infinitos de uma vontade estúpida de recolher todos os méritos, bondades, satisfação para usufruto individual, sem entender o prazer da partilha desinteressada.
Vivemos em tempo de facas afiadas, rasgando quem se aproxima para não sermos contrariados com a presença amorosa do outro. Somos frascos ocupados com líquidos para saciar a nossa sede de universalidade e unanimidade.
Muitas vezes tudo em nós é performático, solúvel e instantâneo, exceto a nossa indiferença e a desgraça do egocentrismo.
A gente ainda não sabe ocupar apenas o espaço que nos foi destinado, sem atropelar o caminho do outro. Cuidar sem exagerar. Dispensar sem ser indelicado. Argumentar sem impor nossa opinião. Selecionar valores sem cair na exteriorização.
A gente ainda não sabe que somos desconfortos que criticam sem piedade expulsando o outro para bem longe do terreno da afetividade e tolerância. O prolixo enfadonho de regras, leis e conselhos que vende barato fragmentos enfastiados de posturas para com o mundo.
O que a gente ainda não sabe é que somos promessas mal pagas tentando fazer gênero extraordinário, mas falimos pela ausência de sensibilidade.
O que a gente não sabe é que a gente mesmo, sabe pouco ou quase nada. E isso é tudo o que mais importa.
Ita Portugal
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